Arco Metropolitano, exigência da montadora para se instalar em Goiana, fez parte das contrapartidas assumidas pelo governo de Pernambuco na atração do empreendimento
Fernando Ítalo / FONTE: VALOR ECONÔMICO
Em visita à Stellantis Goiana, na tarde desta quinta-feira (25), a governadora Raquel Lyra assegurou para o presidente do grupo na América Latina, Emanuele Cappellano, o lançamento da licitação do primeiro bloco do Arco Metropolitano ainda neste semestre.
A via expressa, que vai integrar a Zona Norte do Grande Recife ao Porto de Suape, faz parte das contrapartidas assumidas pelo então governador Eduardo Campos para que a montadora – à época, pertencente à Fiat – se instalasse no município de Goiana.
O projeto foi uma exigência considerada fundamental pela multinacional para transferir seu empreendimento, inicialmente localizado em Suape, para o outro extremo da região metropolitana da capital. A mudança foi imposta por Eduardo, cuja gestão tinha uma política de descentralização do desenvolvimento socioeconômico.
Nessa reconfiguração, o Arco Metropolitano surgiu como solução para reduzir os custos e otimizar o transporte dos veículos fabricados no polo. Do complexo, os automóveis seguem, por modal rodoviário, até o porto, de onde são exportados em navios. O trajeto em caminhões até Suape totaliza, atualmente, 95 km.
O acordo entre estado e iniciativa privada foi firmado no início dos anos 2010. Nesse período, o polo automotivo de Pernambuco mudou de Fiat para Jeep e posteriormente as duas marcas passaram a fazer parte do conglomerado ítalo-franco-americano Stellantis.
Além disso, nesses mais de 10 anos, a planta foi construída, ampliada, bateu a marca de 1,5 milhão de veículos produzidos e chegou ao 9º aniversário de entrada em operação, que será comemorado oficialmente neste domingo (28). Só o Arco Metropolitano não andou.
Em meados de 2014, o atraso gerou críticas públicas da Fiat aos governos estadual e federal. As declarações por meio da mídia vieram em resposta à decisão da então presidente da República Dilma Rousseff de retirar o apoio da União ao projeto. Foi uma retaliação à ruptura de Eduardo Campos com sua gestão e com o PT, para se candidatar à Presidência.
O que diz Raquel sobre o Arco Metropolitano?
Raquel Lyra, em sua agenda na montadora, afirmou que “agora a gente vai cumprir nossos compromissos como estado de Pernambuco, investindo em infraestrutura até o final do primeiro semestre”.
“A gente vai lançar a primeira etapa do edital do Arco Metropolitano, que vai ser o eixo sul“, garantiu, logo após Emanuele Cappellano apresentar o plano de investimentos de R$ 13 bilhões da Stellantis no parque automobilístico. O programa, voltado para hibridização de veículos e descarbonização do complexo, será executado de 2025 a 2030.
“A gente vai permitir que haja melhor eficiência na logística, não só da indústria automobilística, mas também de toda a produção da Zona Norte [do Grande Recife]”, disse ainda a governadora.
O eixo sul do Arco, com 45,3 km de extensão, vai da BR-408, em Paudalho, até a BR-101, no Cabo de Santo Agostinho. Já o eixo norte, com 50 km, interliga a 408 e a 101, na altura de Goiana.
Esse é o segundo cronograma assumido por Raquel, em 2024, para a abertura do processo licitatório do primeiro bloco. O primeiro prazo era “depois do carnaval” e não foi cumprido.
Quanto será investido no Arco Metropolitano?
O Arco Metropolitano é um empreendimento de R$ 1,3 bilhão incluído na versão mais recente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3) do governo Lula.
Metade desse orçamento será bancado pela União e os 50% restantes pela gestão estadual. A previsão é de que a primeira etapa do projeto (o eixo sul) esteja concluída até 2026, quando – nas estimativas da administração estadual – será lançado o edital para a fase mais polêmica do Arco.
O eixo norte enfrenta resistências por parte de moradores e ONGs de sustentabilidade que fazem parte do Fórum Socioambiental de Aldeia. A localidade está na rota atual desse eixo e as lideranças querem mudança nesse traçado. Endereço residencial da classe média alta e A, Aldeia tem boa parte de sua área sob proteção ambiental, pois abriga florestas de mata atlântica e um lençol freático.
“Também vamos focar [nossos esforços] no eixo norte e garantir a conclusão do projeto, definindo o traçado e permitindo uma modelagem com um parceiro privado”, sustentou a governadora. Ela disse também que “haverá respeito ao meio ambiente”.